Hoje, sentado neste
banco de madeira e metal, me vem a cotidiana lembrança do que me privei de
viver. Lembranças das escolhas feitas. Desejos postos de lado por algum outro
interesse menor.
Quando o encontrei,
ele estava sentado neste mesmo banco, o qual naquela época já apresentava certo
desgaste devido a ação da natureza. Chuva, vento e sol eram velhos conhecidos
que visitavam aquele banco com frequência. As árvores, suas companheiras, cresciam
por detrás a décadas, e em torno delas o chão de terra macia, forrada por uma
grama verdejante e sempre bem aparada, dentre a qual floresciam e exalavam
suave perfume, belas e delicadas orquídeas e azaleias. Uma paisagem de sonhos
enamorados.
A imagem daquele
senhor contrastava com a beleza do local. Dizia ter 62 anos mas sua aparência
acusava séculos. Olhos cansados, nariz adunco e fortes marcas na testa e nos
lábios que transmitiam a mensagem de uma tristeza com a qual já convivia a
muito tempo, que tinha se fixado a face daquele homem e esculpido sua imagem em
algo lamurioso e inquietante.
Não é novidade eu
dizer que o incomum sempre me atraiu, e após me deparar com aquela imagem, dia
após dia, semana após semana, quase como uma obra de hiper-realismo exposta na
praça, a não ser pela pouca variação de roupas e seus raros e suaves
movimentos, tive de ir até ele, puxar assunto e tentar decifrá-lo.
Os primeiros contatos
foram breves, e tratávamos os assuntos superficialmente. Falávamos sobre o
tempo, política, futebol e música. Foram meses até nossas conversas começarem a
fluir com maior naturalidade e, mesmo que aquele senhor não tivesse mostrado o mínimo
interesse em revelar detalhes sobre sua vida pessoal, eu considerar o momento
adequado para fazer a pergunta sobre o que realmente desejava saber. Em tom
suave e extrovertido, perguntei:
- O que o
traz diariamente a esta praça, onde fica sentado como se aguardasse algo ou
alguém?
Os dedos de suas mãos
colocados de forma intercalada, as pontas dos polegares se tocavam, cotovelos
apoiados sobre os finos joelhos, e com olhos opacos, buscando um horizonte
dentro de si mesmo, ele me deu a intrigante resposta.
-
Aguardo o retorno
daquela oportunidade que não voltará.